Dos contornos da crise que se instalou no governo, como consequência dos terríveis incêndios que assolaram o país, bem como da movimentação de bastidores que, necessariamente, lhe esteve associada, muito pouco se sabe ainda. Mas o que se conhece, dá bem para entender que, se o diabo não vem aí, terá pelo menos a sua sombra deixado rasto indelével no funcionamento da “geringonça”. O impacto gerado no tripé governativo foi, de facto, demasiado forte para que este possa prosseguir caminho em velocidade de cruzeiro.
É fácil descortinar o ambiente de confusão que se instalou nos corredores e gabinetes de São Bento na atabalhoada procura de respostas para os directamente envolvidos na tragédia e, não menos importante, para tranquilizar os partidos que apoiam o governo, sempre ansiosos em conservar o poder que tão árdua e habilmente conquistaram.
Na comunicação social, políticos e comentadores, bem instruídos pelas respectivas “centrais de informação”, vieram a terreiro esgrimir argumentos pró e contra a demissão de Constança. Esta, por sua vez, defende que não se deve demitir e o primeiro ministro afirma que não a demitirá!
De um modo não esperado, para os menos atentos, Marcelo, o Presidente dos afectos, entra em cena, de rompante, exibindo a outra faceta, fria e calculista do “Príncipe” e desfere o primeiro sério golpe na fragilizada “geringonça”. A consequência mais imediata e visível foi a demissão de Constança, o que a desautoriza, bem como ao próprio primeiro ministro, tendo em conta as afirmações, anteriormente, por ambos proferidas.
Perante cenários políticos com um grau de complexidade mais elevado, ficou demonstrada a ausência de sentido de estado deste governo bem expressa na sua evidente inépcia, o que não deixa de nos trazer preocupação acrescida face a eventuais acontecimentos futuros.
Doravante, o fantasma de Marcelo passará a pairar nas reuniões do conselho de ministros condicionando a actividade governativa. As relações entre o governo e o Presidente dificilmente serão as mesmas e as divergências internas vão abalar (ainda mais) a plataforma.
Entretanto, as dificuldades decorrentes da situação económica do país começam a ganhar, novamente, espaço mediático e as previsíveis “cativações” (cortes) orçamentais ameaçam fazer regressar o país à depressão imposta pelo paradigma financeiro.
Bruxelas já espreita e António Costa, enquanto portador de “boas novas”, poderá ter os dias contados.