Este artigo é uma republicação. Escrevi-o em Fevereiro de 2020, já lá vão um ano e quatro meses. Ao fazê-lo, o meu objectivo é o de alertar para uma vigilância que se quer mais activa e eficaz, por parte das entidades competentes, de modo a que intervenções atempadas possam evitar, no futuro, graves prejuízos e mais vidas ceifadas.
Quando publiquei pela primeira vez este artigo, era também movido pelo desejo, que se mantém, de podermos circular em liberdade e em segurança por esta(s) ilha(s), em trabalho ou em lazer. E parecia-me, tal como me parece agora com maior evidência, que o estado geral das nossas estradas deixa muito a desejar, reclamando prioridade urgente em termos de investimento público. Até porque é deste que também dependerá o privado, sobretudo, no turismo.
Na republicação que se segue (repito que o texto é de Fevereiro de 2020), salvo ligeiras alterações de forma, só as imagens são outras.
Quando chove fortemente, e algumas vezes com persistência, principalmente nos meios rurais, tomam-se as devidas precauções para evitar prejuízos maiores. Mesmo assim, quando a borrasca aperta, o ímpeto da água das chuvas e as fortes ventanias acabam por provocar sérios danos, sobretudo, nos bens e nos haveres das populações atingidas, directamente, pela violência da natureza, ou, como depois se vem a saber, por incúria na limpeza das ribeiras e outros cursos de água.
A orografia da ilha de São Miguel, como, aliás, de todas as ilhas dos Açores, presta-se a que, em muitas zonas, as estradas atravessem ribeiras e grotas como se de pequenos viadutos se tratassem e sem que disso nos apercebamos. Os taludes que suportam as ribanceiras que delimitam as rodovias frequentemente cedem, e as derrocadas acontecem. Estas, nas falésias, de quando em vez também surpreendem.
A nossa História regista, infelizmente, tragédias humanas resultantes de situações como estas. Umas antigas, outras mais recentes.
O desenvolvimento do turismo provocou um substancial aumento da circulação rodoviária de autocarros de consideráveis dimensões, bem como de um inusitado número de automóveis de aluguer.
Por outro lado, é notório o incremento da circulação de camiões de transporte de mercadorias em grandes contentores e de pesada maquinaria agrícola como consequência da crescente mecanização da agricultura.
Diariamente, centenas de viagens são, ainda, efectuadas por toda a ilha, pelos autocarros de passageiros e pelos que estão ao serviço dos transportes escolares.
Também uma extensa rede de trilhos pedestres é percorrida por um número cada vez mais elevado de caminhantes e, como ainda esta semana foi noticiado, só no ano passado (2019), duzentas mil pessoas visitaram o miradouro (norte) da Lagoa do Fogo e cinquenta mil desceram esta lagoa pelo trilho com início naquele mesmo miradouro. A situação em vários outros pontos da ilha, onde a beleza da natureza pode ser contemplada, não deverá ser muito diferente.
Este surto de desenvolvimento turístico implicou, necessariamente, alterações em alguns aspectos fundamentais da tradicional e pacata vida insular, com inegáveis vantagens para a economia. Deixemos, no entanto, para outra ocasião as desvantagens e os muitos desafios com que teremos de nos defrontar ainda.
Por agora, a nossa preocupação é outra.
Engenheiros, geólogos e outros técnicos há que conhecem bem estas ilhas, os seus solos, a vulnerabilidade destes e as suas zonas mais críticas. Por eles sabemos que muitos acidentes são imprevisíveis e que não é possível uma monitorização ao minuto das situações que os potenciam.
A questão consiste, todavia, em saber se aquelas zonas estão, ou não, devidamente identificadas e mapeadas pelas entidades oficiais responsáveis; se as novas circunstâncias, já descritas, se traduzem, ou não, em abordagens distintas das tradicionais, colocando, por exemplo, mais gente no terreno de modo a permitir uma maior vigilância sobre o estado das infraestruturas existentes; ou se existe, ou não, colaboração estreita com a Universidade dos Açores que, para o caso em apreço, se revelaria de extrema utilidade.
Os incidentes têm ocorrido, nos últimos anos, com alguma frequência, causando, por vezes, vítimas mortais. Não afirmo que estas poderiam ter sido evitadas. Mas, dadas as características peculiares dos elementos naturais nas nossas ilhas, é urgente que o sentimento de segurança prevaleça e que seja assumido, publicamente, como preocupação acrescida por parte da autoridade competente, para tal agindo, no terreno, em conformidade, e em nome das populações bem como de todos aqueles que nos visitam.
Luís Bastos
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