Blue Moon
Vem aí a “Lua Azul”. Será avistada no próximo dia 31 de Agosto. Este mês, muito movimentado em questões relacionadas com a “esfera celeste” (não sei se a expressão ainda é utilizada, mas soa bem aqui), e apesar da explicação científica para aquele fenómeno astronómico, recusamos, mesmo assim, prescindir daquele sentimento de mistério face à Natureza que não desiste nem desistirá de nos deslumbrar.
A Lua vai, assim, estar mais perto da Terra (perigeu) e aí a sua beleza será super! E porque esta “Superlua” calha ser a segunda Lua cheia do mesmo mês (a última foi no passado dia 1 de Agosto), fenómeno pouco frequente, os cientistas convencionaram designá-la “Lua Azul”.
É um espectáculo a não perder, com o astro vizinho cerca de 14% maior do que se costuma mostrar e 30% mais brilhante do que a habitual fase de Lua cheia. Sublime! E o leitor ou a vê, em todo o seu esplendor, no final deste mês, ou, então, esperará até Agosto de 2032, altura em que o fenómeno caprichoso volta a repetir-se. Pelo menos é o que a ciência prevê…
Sobre coisas mais terrenas, como Aljubarrota, mãe de todas as batalhas
Ao deixar a beleza dos astros que erram pelos céus, a memória direcciona-me, agora, para terras de Porto de Mós, planalto de São Jorge, Aljubarrota, mais precisamente. Ainda oiço o professor de instrução primária (assim era chamado), insuflado pela onda propagandística do Estado Novo, fazer a exultante narrativa da batalha naquele inesquecível dia 14 de Agosto de 1385, com hora igualmente determinada mas que já não consigo precisar. Garantidamente já pelo meio da tarde, pois sempre que no Verão recordava a épica descrição da batalha, assomava-me à consciência o calor tórrido que os pobres soldados, ingleses e portugueses, haviam de ter sofrido, principalmente os primeiros, pouco adaptados a climas austrais… No entanto, boquiabertos ficávamos com a retumbante vitória portuguesa, apesar da enorme discrepância entre o número de soldados portugueses (menos de metade) e castelhanos.
Na verdade, só muito tempo depois fui informado daquela preciosa ajuda dada pelos archeiros e pelos conselheiros ingleses, estes, na aplicação de um sistema de táctica militar que inventaram e que já havia comprovado a sua indiscutível eficácia letal em batalhas como as de Crécy, ou Poitiers (Guerra dos Cem Anos), algumas dezenas de anos antes, o que igualmente não deixa de configurar séria aselhice por parte da espionagem inimiga…
Em plena crise de 1383-1385, sem rei, com Leonor Teles, viúva de D. Fernando, regente do Reino de Portugal, prosseguiam as lutas intestinas entre a nobreza terratenente com fortes ligações familiares a Castela, e que, de acordo com os seus interesses, ora pendia para esta, ora para Portugal; as traições, os adultérios, os golpes palacianos sucediam-se e, mergulhado em profunda crise económica, o povo desesperado e a burguesia haviam de se revoltar e juntar-se, a seu tempo, ao Mestre de Avis, futuro rei D. João I, filho ilegítimo de D. Pedro I, o cruel rei que uma vez foi casado com a célebre Inês de Castro.
Com muita peripécia de permeio, num cenário de fazer inveja a Nicolau Maquiavel, que frequentaria estes mundos cerca de dois séculos mais tarde, certo é que a independência nacional deixou de estar comprometida, gorando-se, assim, as pretensões lideradas por Leonor Teles de uma união com Castela, sempre com o apoio do célebre (também pelo seu triste fim) estratega conde Andeiro (seu amante), quando fez casar a sua filha Beatriz, herdeira do trono de Portugal, com D. Juan I de Castela. Enfim, apenas um dos períodos da História de Portugal em que a independência nacional esteve seriamente comprometida…
Este apontamento sobre Aljubarrota, já de si muito incompleto, ainda mais ficaria sem uma referência ao grande estratega militar, braço armado do Mestre de Avis, o Condestável Nuno Álvares Pereira. Bem recompensado por D. João I pelos seus feitos, Nuno Álvares Pereira acumulou uma riqueza incalculável tornando-se na pessoa mais rica do Reino. Mandou construir o Convento do Carmo em Lisboa, onde se recolheu, como frade carmelita, em 1422.
Reza a história que partilhou todos os seus bens e que se dedicou à oração fervorosa e à caridade, chegando, mesmo, a ser visto pelas ruas da cidade a pedir esmola! Escreve, porém, Oliveira Marques, na sua «Breve História de Portugal», que “quando Nun’Álvares decidiu retirar-se para um mosteiro, seu genro D. Afonso, filho bastardo do próprio rei, herdou os bens e a posição de chefe da nova aristocracia”. O Condestável morreu na sua cela em 1431. E foi canonizado como São Nuno de Santa Maria pelo papa Bento XVI, a 26 de Abril de 2009…
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