Identidade

Por Madalena San-Bento

Ernesto Canto da Maia (1890-1981)
A Dança e a Música (Canto da Maia, 1926)
Mulher ao espelho (Canto da Maia, 1931)
Bendito seja o fruto do teu ventre (Canto da Maia, década de 40 do século passado)

Madalena San-Bento

Urbano – «De Natura Maris»

Por José Luís Brandão da Luz

Urbano
Foto de Álvaro Miranda, “Açoriano Oriental”

José Luís Brandão da Luz

Do que ensina um grande Amor, em tempo de guerra

Por Madalena San-Bento

Daniel de Sá
A rendição de Granada, Francisco Pandilla (1848-1921)

Granada era um baluarte, na firmeza e dedicação a uma causa. Pelo respeito ao seu conteúdo, poderia ter sido alcançada a tolerância e o multiculturalismo, sem renegar a identidade ocidental a que pertencíamos. Na beleza deste livro, o ritmo e a cadência das palavras, a força do seu conteúdo, são outra herança cultural que nos diz do que são capazes certos seres, e do rio que corre sob o coração dos homens.

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é image-118.png

Porque o que existe ainda de absolutamente certo é que sucumbiremos, e que haverá outros, sobre as nossas consequências. E que o nosso apego, o nosso amor à própria vida, terá sido talvez o que de mais precioso tivemos.

Madalena San-Bento

“HACKNEY DIAMONDS” & OUTROS

The Rolling Stones (Ron Wood, Mick Jagger e Keith Richards). Foto Dave Hogan
Maio de 1968, cartazes
Festival de música Woodstock, EUA, 1969

Luís Bastos

Street Fighting Man“, do álbum “Beggars Banquet”, 1968
Angry“, do novo álbum “HACKNEY DIAMONDS”, Outubro, 2023

Torpores de Verão

Blue Moon

Ernst Ludwig Kirchener (1880-1938) – Nascer da Lua: Soldado e Donzela, 1905

Sobre coisas mais terrenas, como Aljubarrota, mãe de todas as batalhas

Máscaras ou personagens?

James Ensor, A Intriga, 1890

Começava eu há pouco a escrever sobre a situação política nacional e logo coloquei, desta vez, a ideia de lado. Percebi que nada iria acrescentar desde que em post anterior me havia dado à pachorra. E nem o novo baile de máscaras parlamentar, a decorrer animadamente pelos salões de inquérito do Palácio de São Bento (um eterno carnaval…) me demoveu da decisão. Mais, ainda, fui assaltado por uma onda de cepticismo radical (tipo aquela do Descartes) ao lembrar-me de que, era eu ainda criança e já lá em casa se ouvia com frequência sentenciar, a propósito disto ou daquilo, que Portugal não só estava “a saque”, como era, também, “um país sem futuro”. Muito embora, na altura, sobre tais razões não enxergasse grande coisa (embora julgo que a sentença se deveria ao facto de vivermos em ditadura, num país pobre, de injustiças mil e em guerra), agora constato, volvidos todos estes anos, que nunca ouvi prognóstico que batesse tão certo. Apesar de tudo, e isto aconteceu a muitos outros (felizmente), nada me impediu de acreditar, primeiro, que era possível mudar o mundo e, mais tarde, pelo menos este bocadinho de universo onde me aconteceu, para o bem e para o mal, viver… Mas adiante.

É assim que, hoje, me interessou mais indagar sobre a lista de obras de arte que aqui poderia elencar como expressão das vivências humanas, tanto deste, como de todo o tempo passado. Procurando na estante e navegando pela Web, percebemos que certas formas de expressão artística, como o teatro ou a música, a escultura ou a pintura, constituem uma saudável alternativa às triviais e monótonas deambulações em registo de rigorosa escrita analítica – uma obsessão que as ciências têm pela objectividade que sempre acaba em falsidade, ou pela verdade dos factos, tarefa ainda mais absurda, porquanto, inexoravelmente, condenada ao fracasso. E o pior de tudo isto é que, com Camus, lá vamos continuar, mau grado o absurdo, a insistir neste “não sentido”…

É que a obra de arte, bem pelo contrário, confere-nos, e aos seus criadores, uma total liberdade para imaginar, sonhar, julgar, sentir, pensar, interpretar, analisar, comentar e criticar sobre tudo o que, por dizer respeito à condição humana, atravessa e perdura no tempo, apesar das alterações e das diferenças (mais na forma, até, do que no conteúdo) próprias dos respectivos contextos histórico-culturais. A arte dá-nos o consolo do refúgio numa realidade imaginária, num mundo simbólico, que o outro já cansa.

James Ensor, Os Bons Juízes, 1891

Ora, A Intriga ou Os Bons Juízes, de James Ensor (Bélgica, 1860-1949), são obras de arte bem demonstrativas de como, de forma mordaz e bem humorada, ainda que, frequentemente, com a marca do trágico, um artista pode fazer crítica política e social sem nada impor a ninguém, a não ser o desejo de que igualmente os espectadores, descobrindo semelhanças e afinidades ao seu redor, dêem asas à imaginação e desfrutem das emoções contagiantes. Procedam, enfim, a abordagens diferentes, originais e criativas, que os libertem dos tradicionais padrões que os agrilhoam ao diktat do manual ético-político das “boas práticas”.

No caso de Ensor, os seus trabalhos refletem um fascínio por máscaras, isto é, por personagens mascaradas, burlescas, de cores garridas. O observador é desafiado a deslindar se são os rostos bizarros que preenchem as telas do artista que se transformarão em máscaras, ou se estas em rostos humanos… Esta fusão máscara/personagem, a realidade distorcida, característica, aliás, da corrente expressionista na qual Ensor se integra, constitui, simultaneamente, a expressão da ameaça e do medo que nos intriga e aflige. Para além da sátira política e social, que emerge no expressionismo como um produto da ideia de miséria humana, também o irracionalismo e a defesa da liberdade individual foram alguns dos temas mais explorados por esta corrente estética.

Karl Hofer, Homem em Ruínas, 1937

Observar, aqui, atentamente, os dois exemplares da vasta obra de outro expressionista, Karl Hofer (Alemanha, 1878-1955), é ter a possibilidade de prescindir, com evidentes vantagens terapêuticas, dos infindáveis “Relatos da Guerra” na Ucrânia com que os canais de TV cabo nos brindam dia e noite. O circo mediático exibe agora, em prime time, novas personagens (ou máscaras?), atendendo à especificidade da temática. De facto, e mesmo ainda antes do Presidente da República, foram os homens das ciências económicas e financeiras, quais alquimistas do século XXI, relegados para o banco de suplentes, o que se explica pelo facto de o país estar a conhecer o de todos bem conhecido sucesso global, inclusive nas áreas que àquelas ciências esotéricas diz respeito. (do grego, “esoterikós”, quer dizer, peculiar aos de dentro, aos da intimidade.

Agora é, pois, o tempo dos confrontos de sapiência entre as academias, civil e militar, com as suas análises fantásticas, onde não faltam sugestões sobre as melhores estratégias para a destruição e morte. Despiques entusiásticos sobre quem tem mais poder letal (ou como o devem obter, russos e ucranianos), prognósticos “imparciais”, “científicos”. Provavelmente, logo de seguida, virão outros com mesas redondas sobre Direitos Humanos, ambiente ou até, surpreendentemente, um ex-comentador da bola falará, sábia e “fofinhamente”, sobre a cirurgia a que o Papa, de 86 anos, foi submetido, e dos perigos que daí advêem para a sua vida. Ou para a Jornada Mundial da Juventude?

A tudo isso prefiro a “A Dança da Morte” (1946), a provocação e a denúncia da hipocrisia dos homens ali pintadas (escarrapachadas) na tela, logo à saída da II Guerra Mundial ou o “Homem em Ruínas” (1937), obra produzida quando ainda todos se perguntavam como tinha sido possível o apocalipse ocorrido entre 1914-1918. Mal sabiam, os sempre incautos homens, que o Holocausto não tardaria…

Karl Hofer, A Dança da Morte, 1946

E agora que a ameaça e o medo pelo desconhecido, que as máscaras de James Ensor tão bem sabiam traduzir na tela, pairam de novo sobre os civilizadíssimos países europeus, dada a angustiante incógnita sobre o desfecho de uma guerra, não obstante, uma vez mais escolho enveredar, sem peias, pelo atalho do prazer estético. E assim termino convidando o leitor a “ler”, descobrir e refletir, a partir da beleza trágica de “O Cego Condutor de Cegos”, quadro de Walter Heckmann (Alemanha, 1929-1994), sobre o resplandecente estado actual da Humanidade.

Walter Heckmann, Cego Condutor de Cegos, 1991

Luís Bastos