Contrastes chocantes e servidão voluntária

La Boétie, França, 1530-1563

Luís Bastos

Dislate em fim de estação

“Os Açores e Madeira podem, porque não têm o peso das aposentações”.

Para o ministro Costa da Educação (de um governo socialista), está provado que um professor aposentado é um peso que só atrapalha a vida dos outros (professores).

E foi logo do “novo” responsável pela Educação, e em plena “cimeira insular” Açores/Madeira (então a decorrer na bela cidade do Funchal), que veio mais esta bacorada em que são tão pródigos os governantes da República e às quais já há muito nos habituaram. Desta vez, e dispensado da anual visita estival de soberania, que outros seus colegas cumpriram (pelo menos com presença física e passeios pelas “deslumbrantes paisagens dos Açores”), o ministro da pasta disparou, a partir de Lisboa, uma piada (só pode ser) brejeira em relação à recuperação (integral) do tempo de serviço dos professores dos Açores congelado no tempo da “troika”. Obviamente, o ministro desconhece os Estatutos das regiões autónomas e, pelos vistos, a própria Constituição, já que, até hoje, e que se saiba, aquela medida dos governos regionais não suscitou dúvidas quanto à sua constitucionalidade.

Servindo-se das decisões dos órgãos de governo próprio, das autonomias, quis, então, Sua Excelência, o ministro, justificar-se perante os professores do território continental da República, argumentando que os governos insulares não pagam as reformas dos seus professores, mas sim o Estado português, dispondo, deste modo, de recursos financeiros para suportar a recuperação integral do tempo de serviço daqueles, disponibilidade de que ele, ministro, não goza. Nem mais!

Ora, ou os Açores e a Madeira não são parte integrante do Estado português, ou alguém terá de explicar que destino levaram os meus descontos mensais para a Caixa Geral de Aposentações ao longo de mais de 42 anos!

Assim como alguns impostos “transitórios”, do tempo da “troika”, ainda hoje dão jeito ao Governo da República, também o congelamento das carreiras, naquele tempo decretado, serve bem as aflições que começam a apoderar-se desta absoluta maioria.

Ai, que o Diabo está mesmo a chegar – às ruas!

Luís Bastos