Resolveu o líder do maior partido da oposição, Pedro Nuno Santos, escrever uma carta ao Primeiro-ministro, Luís Montenegro, divulgada publicamente, hoje, 8 de Abril. Nela manifesta a sua abertura e boa vontade para o diálogo, tendo em vista a negociação sobre matérias de interesse comum e que constituíram algumas das principais “bandeiras” da campanha eleitoral de ambas as forças políticas. Não se sabe, pelo menos até este momento, se foram enviadas cartas com o mesmo objectivo aos demais partidos políticos que igualmente defenderam e defendem as mesmas medidas prometidas.
Pedro Santos parece, deste modo, estar a privilegiar o diálogo com os partidos do governo, correspondendo, assim, à vontade do PSD e de Luís Montenegro em ter no PS o interlocutor privilegiado para a negociação, para já, de importantes diplomas visando os aumentos nas várias carreiras da função pública, como forças de segurança, professores, profissionais de saúde e oficiais de justiça (questão da habitação omissa).
Todavia, o líder do PS não está a privilegiar coisíssima alguma, nem está com súbitas e impetuosas vontades de diálogo que a carta pode fazer transparecer junto dos mais incautos. Percebeu, isso sim, e bem, que, ou se colava às medidas populares que, certamente, vão surgir da parte do novo governo, satisfazendo as reivindicações aludidas e que os governos do PS não quiseram ou souberam resolver no passado, ou perderia, para o PSD e, eventualmente, para a extrema-direita, as vantagens e popularidade advenientes da satisfação das tais medidas.
Se alguma coisa dá para caracterizar a personalidade política de PNS, é, indubitavelmente, uma boa dose de romantismo político salpicado de aventureirismo associado a um indesmentível taticismo. Assim, se por um lado, as consequências de uma colagem ao governo, na aprovação de diplomas importantes, se afigura como politicamente vantajosa, certo é que PNS joga, também, a sua própria popularidade imprescindível à solidificação da liderança, algo que algumas hostes de peso no interior do PS, ainda esperam para ver. Com efeito, há, igualmente, que acalmar aqueles moderados do PS, o que no imediato consegue com esta “aproximação” ao governo, independentemente dos resultados que as negociações possam vir a ter.
Com a carta jogada, Pedro Santos pode sempre vir a ganhar – os diplomas do governo serão aprovados só porque o PS lhe deu a mão, ou alterados e “melhorados” porque o PS assim o entendeu. Por fim, haverá os que o PS não aprovará de todo, para marcar a diferença, e votará, portanto, contra.
Entretanto, como fará o partido dos cinquenta?
Luís Bastos